29 de julho de 2017

O neoliberalismo nos convenceu a combater as mudanças climáticas como indivíduos

Tradução de artigo de Martin Lucaks publicado no jornal inglês The Guardian em 17/7/2017.


O neoliberalismo nos convenceu a combater 
as mudanças climáticas como indivíduos

Pare com a obsessão de viver sua vida da forma mais "verde" possível - e comece a agir coletivamente para tomar o poder das corporações.

Você aconselharia alguém a combater um incêndio assoprando as chamas? Ou a usar um mata-moscas em meio a um tiroteio? Pois bem, os conselhos que ouvimos para combater a mudança climática dificilmente poderiam estar mais fora de sintonia com a natureza da crise ambiental que estamos vivendo.
Um e-mail que recebi na semana passada me oferecia 30 sugestões para tornar meu escritório mais verde: usar canetas reutilizáveis, redecorar com cores claras, parar de usar o elevador. Chegando em casa, eu poderia continuar com outras opções: trocar as lâmpadas, comprar legumes locais, comprar eletrodomésticos com menor consumo de energia, colocar um painel solar no telhado. E um estudo divulgado na quinta-feira afirmou ter descoberto a melhor maneira de lutar contra as mudanças climáticas: eu deveria desistir ter filhos.
Essas pervasivas exortações para ações individuais - em anúncios corporativos, livros escolares e nas campanhas dos principais grupos ambientais, especialmente no Ocidente - parecem tão naturais quanto o ar que respiramos. Mas dificilmente poderíamos estar mais enganados.
Enquanto nos ocupamos de nossa vida pessoal, as corporações que exploram os combustíveis fósseis tornam nossos esforços individuais irrelevantes. Sabe o incrível aumento das emissões de carbono verificado desde 1988? Pois uma centena de empresas sozinhas são responsáveis por 71% de toda essa emissão. Você se preocupa com suas canetas ou suas lâmpadas; eles continuam incendiando o planeta.
A liberdade dessas empresas para poluir - e nossa fixação numa frágil mudança de estilo de vida - não é um acidente. É o resultado de uma guerra ideológica, travada nos últimos 40 anos, contra a possibilidade de ação coletiva. Tem sido devastadoramente bem-sucedida, mas não é tarde demais para ser revertida.
O projeto político do neoliberalismo, que ganhou força com Thatcher e Reagan, perseguiu dois objetivos principais. O primeiro tem sido o de desmantelar quaisquer barreiras que impeçam o irrestrito exercício do poder privado. O segundo objetivo tem sido o de erigir barreiras que impeçam o exercício de qualquer vontade pública democrática. Suas políticas comerciais de privatização, desregulamentação, cortes de impostos e acordos de livre comércio liberaram as corporações para acumular lucros enormes e tratar a atmosfera como se fosse seu esgoto, além de limitar nossa capacidade, por meio do Estado, de planejar nosso bem-estar coletivo.
Qualquer coisa que se assemelhe a um controle coletivo sobre o poder corporativo tornou-se um alvo da elite: o lobby e as doações corporativas, enfraquecendo as democracias, obstruíram as políticas verdes e mantiveram os subsídios para os combustíveis fósseis. Por outro lado, os direitos de associações como sindicatos, o meio mais eficaz para que os trabalhadores exerçam seu poder em conjunto, têm sido restringidos cada vez mais.
No exato momento em que a mudança climática exige uma resposta pública coletiva sem precedentes, a ideologia neoliberal está no meio do caminho. É por isso que, se queremos diminuir as emissões rapidamente, precisaremos superar todos os mantras de mercado livre: fazer com que as ferrovias, os serviços públicos e as redes de energia voltem ao controle público; regular as empresas para promover uma gradual eliminação dos combustíveis fósseis; e aumentar os impostos para pagar o investimento maciço que se faz necessário para a implantação de uma infraestrutura sustentável e para a energia renovável - para que assim os painéis solares possam estar no telhado de todos, não apenas nas casas daqueles poucos que hoje podem pagar.
O neoliberalismo não se limitou a garantir que essa agenda fosse inviabilizada politicamente: também tentou torná-la culturalmente impensável. Sua celebração do interesse próprio competitivo e do hiper-individualismo, sua estigmatização da compaixão e da solidariedade desgastaram nossos laços coletivos. Espalhou-se, como uma insidiosa toxina antissocial, a ideia pregada por Margaret Thatcher: "Não existe essa coisa chamada sociedade."
Estudos mostram que as pessoas que cresceram sob essa era tornaram-se mais individualistas e consumistas. Imersos numa cultura que nos diz para pensarmos em nós mesmos como consumidores e não como cidadãos, como seres autossuficientes em vez de interdependentes, não surpreende que lidemos com uma questão sistêmica por meio de ineficazes esforços individuais. Somos todos filhos de Thatcher.
Mesmo antes do advento do neoliberalismo, a economia capitalista já tinha alcançado êxito em fazer as pessoas acreditarem que ser afligido pelos problemas estruturais de um sistema de exploração - pobreza, desemprego, falta de saúde, falta de realização - é, na verdade, uma deficiência pessoal.
O neoliberalismo tomou essa culpa internalizada e o tornou-a ainda mais forte. Diz que você não deve apenas sentir culpa e vergonha por não conseguir um bom trabalho, por estar endividado e muito estressado ou ainda tão assoberbado de trabalho que não tem tempo para os amigos. Agora você também é responsável por suportar o fardo do potencial colapso ecológico.
É lógico que precisamos que as pessoas consumam menos e criem alternativas para reduzir as emissões de carbono - construindo fazendas sustentáveis, aperfeiçoando o armazenamento de baterias, difundindo métodos que não gerem resíduos. Porém, as escolhas individuais irão contar mais quando o sistema econômico puder oferecer opções viáveis e ambientais para todos - não apenas para uns poucos ricos e intrépidos.
Se não é disponibilizado um transporte público de massa, as pessoas têm de se deslocar com carros. Se os alimentos orgânicos locais são muito caros, as pessoas continuam comprando nas cadeias de supermercados que vendem produtos mais baratos, produzidos com uso intensivo de combustíveis fósseis. Se a produção em massa de produtos baratos segue sem parar, as pessoas vão comprar, comprar e comprar. Este é o trabalho de neoliberalismo: persuadir-nos a abordar as mudanças climáticas através dos nossos livros de bolso, e não através do poder e da política.
O eco-consumismo pode ajudar a expiar sua culpa. Mas são apenas movimentos de massa que têm o poder de alterar a trajetória da crise climática. Isso exige de nós primeiro uma resoluta libertação em relação ao feitiço lançado pelo neoliberalismo: parar de pensarmos apenas como indivíduos.
A boa notícia é que o impulso dos seres humanos para se unir é inextinguível - e a imaginação coletiva já está propiciando alguma resposta política. O movimento pela justiça climática tem bloqueando oleodutos, forçado o desinvestimento de trilhões de dólares e ganhado apoio para a política de adoção de energia 100% limpa em cidades e estados de todo o mundo. Novos laços estão sendo estabelecidos com o movimento Black Lives Matter, com a defesa dos direitos dos imigrantes e indígenas e as lutas por melhores salários. Na sequência de tais movimentos, há partidos políticos que parecem finalmente dispostos a desafiar o dogma neoliberal.
Um bom exemplo dessa reação é Jeremy Corbyn, líder do Partido Trabalhista inglês, cujo Manifesto propôs um projeto redistributivo para lidar com as mudanças climáticas, reestruturando a economia e impedindo que os oligarcas corporativos continuem agindo sem controle. A ideia de que os ricos deveriam pagar sua parcela justa para financiar essa transformação foi considerada uma piada pela classe política e pela mídia. Porém, milhões não concordaram com essa visão. A sociedade, que há muito se dizia que tinha desaparecido, está de volta - e com um plano de vingança.
Portanto, plante suas cenouras e ande de bicicleta: isso tornará você mais feliz e saudável. Mas é hora de parar com a obsessão sobre quão "verde" cada um de nós é individualmente - e começar a retomar o poder que está nas mãos das corporações.

Martin Lukacs - The Guardian - 17/07/2017

21 de janeiro de 2016

Wanted: High-Character Students

Dozens of colleges endorse plan to promote — and reward — ‘ethical engagement’ in admissions
By Eric Hoover JANUARY 20, 2016

Tom Kates
Richard Weissbourd, the report’s author, doesn't play down the importance of being a good student. The issue, says Mr. Weissbourd, who's a psychologist and a senior lecturer at Harvard’s Graduate School of Education, "is getting over yourself."
Each year colleges invite applicants to sing their own praises, by listing achievements and proclaiming passions. Now some admissions offices are emphasizing students’ concern for others and the world beyond their test-prep manuals.
For the last few months, some admissions leaders have quietly discussed strategies for encouraging good citizenship, not just résumé-polishing, among high-school students. Although many colleges already consider applicants’ extracurriculars — volunteering, music, sports — some deans say the institutions should do more to promote and reward altruistic pursuits. To that end, several selective colleges have changed their applications to signal the importance of community service, and more plan to follow suit this year.
The impetus is, in part, a new campaign called "Turning the Tide." On Wednesday its organizers plan to release amanifesto that suggests colleges have fueled a potentially harmful fixation on academic achievement, and recommends how admissions can cultivate and prize "ethical engagement." Certain changes would send a strong message to prospective students, the report says. "The admissions process can counteract a narrow focus on personal success and promote in young people a greater appreciation of others and the common good."
The document urges colleges to talk up sustained community service as opposed to, say, a do-gooding jaunt to Belize. It calls on them to clarify that students who contribute to their families, perhaps by caring for siblings, are performing valuable service that should count in admissions. And it encourages colleges to reduce "undue achievement pressure" by discouraging applicants from "overloading" on advanced courses or submitting "overcoached" applications.
So far more than 80 admissions officials, high-school counselors, and education scholars — including at Columbia University, the College of Wooster, and the University of Michigan at Ann Arbor — have endorsed the push, which proponents see as a much-needed wake-up call. Praise for the campaign, though, is hardly universal. Some colleges invited to sign on have declined. A few admissions officials describe the recommendations as overwrought and excessively critical of colleges and students alike.
A few admissions officials have said they are troubled by the document's tone: 'It's a crusade to attack the ills of humanity,' said one, 'and this dastardly idea that students would be self-focused.'
This comes as a hidebound profession is wrestling with its future. A group of selective colleges recently announced a controversial innovation that could change the experience of applying to college for some students. Admissions leaders themselves often say the process is cumbersome, flawed, and tilted in favor of the wealthiest students.
Although opinions of "Turning the Tide" vary, nobody seems to question the project’s intentions: to remind colleges that what they project and what they value affect hordes of anxious teenagers, whose impressions of themselves are just forming. "There’s a real developmental opportunity in this process, if it’s done right," said Rod Skinner, director of college counseling at the Milton Academy, in Massachusetts. That’s why he signed on. "How do we help our kids manage this madness, and how do we raise good kids? That’s very much on the minds of parents right now. Jumping into these questions is kind of essential. On some level, we’re fighting for the soul of this business."

‘Getting Over Yourself’

It’s a business that Richard Weissbourd, the report’s author, knew little about until recently. He’s a child and family psychologist, a self-described outsider to college admissions. As a senior lecturer at Harvard University’s Graduate School of Education, he co-directs Making Caring Common, a program that helps educators, parents, and communities instill respect and empathy for others in children and young adults. Mr. Weissbourd’s research, based on surveys of 10,000 middle- and high-school students, suggests that the selfie generation isn’t so selfless, valuing achievement and happiness over caring for others.
After going through the admissions process as a parent, Mr. Weissbourd turned his researcher’s gaze to the ritual. How did it shape teenagers’ attitudes and behaviors, their sense of what colleges and society hold dear? In a presentation at a national admissions conference last fall, Mr. Weissbourd said he did not wish to play down the importance of being a good student. What he preached was balance. "The issue here," he said, "is getting over yourself."
In an interview with The Chronicle on Tuesday, Mr. Weissbourd described his interest in the process the nation loves to hate. "College admissions, for many kids, is the only sort of rite of passage in adolescence where they are in conversations with adults, about what colleges value, what society values," he said. "It just seems like a potential opportunity, a leverage point."
The Education Conservancy, which for a decade now has sought to calm the admissions frenzy, is collaborating with Mr. Weissbourd. Lloyd Thacker, the group’s executive director, considers the campaign an attempt to clarify any mismatches between what colleges say they care about — like compassion and community — and what they actually do, as demonstrated by their admissions requirements.
"It’s about aligning their mission statements with the messages they send," Mr. Thacker said. "Part of their goal is to help kids become better citizens, but in terms of how they evaluate candidates, service beyond self is not promoted in balance with those mission statements."
'In some affluent communities, we have a community-service Olympics going on. ... At the same time, there are large numbers of students who don't have opportunities to do community service.'
Written in an earnest tone, the expansive document conveys big-picture worries and granular prescriptions. "Turning the Tide: Inspiring Concern for Others and the Common Good Through College Admissions" proposes dozens of general recommendations and specific changes in applications. High-school students should engage in "meaningful, sustained" community service, it says, committing for at least a year to a particular activity, which is more likely than a fleeting stint is to "generate deeper reflection" and develop "key emotional and ethical capacities." Tackling a community problem gets a strong nod, as do experiences that let students "do with" instead of "doing for" people from different backgrounds.
Mr. Weissbourd also acknowledged a stark divide: Affluent students tend to have more time than their lower-income peers do to participate in the sorts of extracurricular activities colleges look for. Yet students who look after sick relatives or work part time to help support their families care for others in meaningful ways, the report says. Colleges should clearly state that they value such contributions, it says, and invite applicants to discuss them.
"In some affluent communities, we have a community-service Olympics going on, to see who can get the most impressive community-service experience, and it’s become another accomplishment, another way of padding your résumé," Mr. Weissbourd said on Tuesday. "At the same time, there are large numbers of students who don’t have opportunities to do community service."
In a section on "reducing undue achievement pressure," the report advises admissions offices to limit the length of "brag sheets," encouraging applicants to list only two or three "substantive" extracurriculars. "Applications," it says, "should discourage students from reporting activities that have not been meaningful to them."
Drafts of those and other recommendations, which have been circulating among admissions leaders for months, have already led to changes on some campuses. Stuart Schmill, dean of admissions at the Massachusetts Institute of Technology, said the report had inspired a new mandatory essay prompt: "At MIT, we seek to develop in each member of our community the ability and passion to work collaboratively for the betterment of humankind. How have you improved the lives of others in your community? (This could be one person or many, at school or at home, in your neighborhood or your state, etc.)"
The University of Rochester is planning several changes in response to "Turning the Tide," Jonathan Burdick, vice provost for enrollment initiatives, said in an email to The Chronicle.Those include changing a supplemental essay question to something like: "Describe your contribution(s) to your community/ies today and the benefits you can offer to the communities here next."
Rochester also intends to develop a new metric to assess each applicant’s record of "sustained, meaningful, and team-oriented service" through essays, recommendations, and interviews. And the university will stop collecting and reviewing information for more than three extracurricular activities, encouraging applicants to describe only their most "high-quality" pursuits — and their meaning.
The University of Washington is planning to invest in student service, Philip A. Ballinger, associate vice provost for enrollment, said in an email. The institution is poised to develop — and raise money for — scholarships he said would recognize "significant engagement with and leadership in communities."

Rescuing Humanity

Even as some colleges have willingly joined the campaign, other prominent institutions have chosen not to. A few admissions officials have said privately that they were troubled by the document’s tone, rendering of how the process works, and characterization of today’s applicants. "It’s a crusade to attack the ills of humanity," said one admissions dean, "and this dastardly idea that students would be self-focused."
The report offers some good ideas, but also "untenable" recommendations, said Richard H. Shaw, dean of undergraduate admission and financial aid at Stanford University. "This manifesto is too broad, too general, and frankly too critical and in a way [that] assumes the worst about young people," he wrote in an email. "This is also true about the intent of the college-selection process." After reviewing the document, a committee of faculty members and students that advises the admissions office at Stanford unanimously decided not to endorse it.
In principle, the message is fine, said Gregory W. Roberts, dean of admissions at the University of Virginia: Character is important, and too much stress is bad. That’s why he signed on. But like several other deans interviewed for this article, he shared a more optimistic view of applicants. "Frankly, the students I see are accepting of others," he said, "interested in making the world a better place."
The suggestion that colleges don’t care much about ethical development also bothered some admissions officials, even a few who endorsed the campaign. Admissions officers often try to glean insights into a student’s character, they say, from letters of recommendations, essays, and interviews. Many selective institutions conduct "holistic" reviews of applicants that take their unique backgrounds and circumstances into account.
Beyond that, how far could or should any admissions office peer into the hearts of 17-year-olds, who are as-yet-unfinished products, still growing, perhaps fumbling for their own moral compass? Does the report’s recipe for "more generous and humane" youth, for assessments of "whether students are kind, generous, honest, fair, and attuned to those who are struggling in their daily lives," exceed the purview of admissions officers? Those who answer one way might find the report illuminating and uplifting — or another way, unrealistic and heavy-handed.
Given how the "business" of higher education has shaped enrollment practices, the campaign offers colleges an opportunity to examine what they do, said Michael Beseda, vice president for enrollment and university communications at Willamette University. "Is it wildly or mildly idealistic — yes," he wrote in an email to The Chronicle. "Is it social engineering gone awry — heavens, the college-admission process is by nature political, and any choice we make reinforces, supports, or reflects a political scheme of some type, is social engineering from some perspective."
Mr. Beseda signed on, too. The university had already planned to add a new question to its application next fall. "At Willamette, our motto — Non nobis solum nati sumus: Not unto ourselves alone are we born — animates our campus and inspires our graduates. With the benefits of a rigorous liberal-arts education, Willamette Bearcats seek to apply what they have learned for the well-being of others. Can we count you with us? How do you hope to do good in the world?"

‘Extreme Self-Consciousness’

Whether changes in an application can make a meaningful difference on a campus or beyond — or whether what they yield can influence the chances of any one applicant — will depend on other variables. Like the institutional will to embrace a broader definition of merit that may lack external validation. Alas, U.S. News & World Report’s formula doesn’t factor in "ethical engagement."
The nascent crusade for character could prompt colleges to think differently about admissions — or give them cover to lament the ill effects of achievement pressure while preserving the status quo. Essentially, the report is for a rarefied tier of selective colleges, enrolling only a small fraction of the nation’s applicants, whose challenges hardly reflect those of a majority of college students.
And let’s not forget the achievement pressure that comes from some parents. "If they don’t get over their obsession with a handful of colleges," Mr. Weissbourd said, "this process is going to be really hard to change."
Although Mr. Weissbourd hopes his recommendations will help level the playing field for disadvantaged applicants, some healthy skepticism is in order. "Smart, rich kids are always going to figure out a way to look the way colleges want them to look," said Willard M. Dix, an independent college counselor in Chicago who works with low-income and first-generation students.
And there may be no way around it: Applying to college is an egoistic endeavor. "It’s a moment of extreme self-consciousness," Mr. Dix said, "and you’re trying to put yourself in the best possible light."
Still, Mr. Weissbourd has delivered from the outside a bunch of big-hearted ideas that could ground future discussions. A similar alarm, though, has sounded before. Back in 2000, Harvard’s admissions office put out a paper describing the toll the admissions process was taking on students, who, it said, "seem like dazed survivors of some bewildering lifelong boot camp."
Of course Harvard’s admissions office cares about students’ ambition and motivation, an official told The New York Times then. "We are at the same time just as concerned about the application of those qualities imprudently, unchecked by humanity, values, reflection, relationships, all the things that make one human." All the things that, so often, don’t get you into college.
Eric Hoover writes about admissions trends, enrollment-management challenges, and the meaning of Animal House, among other issues. He’s on Twitter @erichoov, and his email address is eric.hoover@chronicle.com.

28 de outubro de 2013

Pela ressurreição da dúvida

O maior dos males dos dias de hoje é o excesso de certeza. Todos estão cheios de razão. As pessoas não têm mais opiniões, têm inabaláveis convicções. De antipetistas a black blocs, de religiosos a ateus, dos críticos da mídia aos que creem na existência de sereias, não existe um segundo de hesitação, uma mísera dúvida, uma possibilidade de concessão. Pensa-se sobre o mundo como se torce por um time. Amigos, lutemos pela ressurreição da dúvida!

27 de outubro de 2013

Não há desculpas para a violência covarde.

PMs que agridem covardemente professores e fotógrafos. Black blocs que agridem covardemente PMs. São todos farinha do mesmo saco. Deveriam todos estar atrás das grades. Abaixo a cultura da violência. É possível alcançar transformações sociais sem socos, cacetetes, pedradas e balas de borracha! Acima de tudo, é possível agir sem covardia!

19 de outubro de 2013

Eis o novo Brasil

Eis o novo Brasil.
É um novo País, fresquinho, ainda com cheiro de tinta, que surgiu de repente em junho.
Como se fosse uma ilha paquistanesa após um terremoto.
Nesse novo Brasil, a polícia, cheia de orgulho, bate em professores e cega fotógrafos com balas de borracha.
Também é o país onde a luta política passou a ser feita com pedra e fogo.
Adeus, discursos, argumentos, mesas de negociação.
Adeus, Thoreau, Gandhi, Luther King.
A pedra é mais pesada do que a palavra.
Vamos transformar o mundo depredando prédios e incendiando carros.
Vamos vencer a violência com violência.
Se a força é o que importa, os líderes passarão a ser aqueles que tenham a mão mais forte.
Capaz de atirar mais longe pedras mais pesadas.
A ditadura acabou, mas o pensamento totalitário ganha cada vez mais espaço.
No centro do poder nada mudou e nada deve mudar.
Mas, na periferia, trocou-se o sonho de um mundo de paz e justiça por um mundo com mais adrenalina.

3 de julho de 2013

Quando o herói vira o inimigo público nº 1


O governo dos Estados Unidos espiona a tudo e a todos, sem o conhecimento da população. Reino Unido espiona seus até aliados em reunião do G20 em Londres. Tudo fica por isso mesmo. E o grande inimigo da humanidade é o pobre sujeito que permitiu às pessoas tomarem conhecimento de todo esse abuso de poder.
Definitivamente, a ética é um conceito cada vez mais difuso para os governos do mundo inteiro...

30 de junho de 2013

Políticas de inclusão social e o Facebook

Os grandes beneficiários das políticas de inclusão social no Brasil não têm Facebook. Sua voz raramente é ouvida nas redes sociais, pois são pessoas que dificilmente têm acesso à internet, muito menos tablets e smartphones. Até porque eles em geral estão fora das chamadas "redes sociais" virtuais, pelas quais as manifestações são convocadas, não os vejo também como protagonistas de todo esse surpreendente movimento cívico que agita pequenas e grandes cidades. As pautas das manifestações são, em geral, justas: combate à corrupção, menos privilégios para os políticos, mais investimentos em educação e em saúde, etc. O atendimento a essa pauta de reivindicações, se acontecer, deve trazer benefício para o conjunto da população brasileira. 
Porém, curiosamente, todo esse movimento se segue a uma onda de condenações, especialmente no Facebook, à política de inclusão social que tem sido adotada no Brasil nos últimos 15 anos. Essa política começou de forma tímida no Governo FHC e ganhou força nos governos Lula e Dilma. O PT errou muito nos últimos anos. Fez alianças espúrias a fim de ter maioria no Congresso, assistiu passivo ao episódio do mensalão e negligenciou a educação. Apesar de tudo isso, as políticas de inclusão social têm feito o País reverter uma tendência de séculos: diminuir a histórica e cristalizada desigualdade social. São avassaladoras as evidências de que milhões de brasileiros deixaram nos últimos anos de serem miseráveis para serem apenas pobres. Isso é pouco para quem está na classe média, mas pode ser a diferença entre a vida e a morte para muitos brasileiros. O Brasil é o único país dos BRICs em que a desigualdade social está diminuindo. Na China, na Rússia, na Índia, há até mais crescimento econômico, mas os ricos ficam cada vez mais ricos; os pobres ficam cada vez mais pobres. É óbvio que ainda há muito a fazer, mas deveríamos comemorar essa conquista, materializada na redução da mortalidade infantil e no aumento da longevidade, especialmente no Nordeste. É óbvio que o ideal é que as pessoas não dependam tanto de programas de complementação de renda, que consigam se sustentar por conta própria, mas tentar garantir esse ideal agora à força, abandonando as políticas de inclusão social, seria fazer com que milhões de brasileiros voltassem à miséria. 
O que mais me preocupa é ver que a diminuição da desigualdade social, que deveria ser o grande tema nacional, não apenas está ausente das manifestações, como parece estar fora do desejo da maioria das pessoas que se expressam pelas redes sociais. Mais do que isso, tudo indica que uma grande parcela dos manifestantes vai escolher políticos que interrompam ou diminuam esse tipo de investimento social. E podem me apedrejar se quiserem, mas, na minha leitura, a desigualdade social está fora da pauta, pois ela não atende diretamente aos interesses da nossa grande classe média. As políticas de inclusão social são uma pauta altruísta demais num país acostumado com as desigualdades. 
Resta-me, por fim, fazer um apelo aos meus amigos de Facebook: já que provavelmente haverá uma grande renovação política no próximo ano, só lhes peço que, independentemente de partido político, escolham governantes e legisladores que não acabem e, ao contrário, ampliem as ações governamentais voltadas para a diminuição da desigualdade social. Não permitam que o grande legado de todas essas fantásticas manifestações seja fazer o Brasil voltar a ser o que sempre foi: um país em que os ricos ficam cada vez mais ricos, e os pobres cada vez mais pobres. Façam os governantes ouvirem suas vozes, mas façam também com que suas vozes não sejam apenas suas e solidariamente representem também aqueles que nem sabem o que é Facebook!

Reflexos das manifestações sobre o resultado das eleições presidenciais de 2014

Acostumado a fazer previsões meteorológicas, ensaio aqui uma sucinta, despretensiosa e desapaixonada previsão política, tentando responder à pergunta sobre quem tem mais chance de vencer as eleições de 2014 a partir das manifestações que varrem o Brasil. 
As chances de Dilma ou de Lula diminuem a cada dia: nas redes sociais, o PT, Dilma e Lula são vistos como a causa de todos os males do País. Marina está bem cotada agora, mas o fato de ser evangélica deve lhe trazer sérios problemas na hora da campanha eleitoral. O PSDB e Aécio estão sendo poupados das críticas e, ao que tudo indica, se não surgir um novo candidato de um partido desconhecido (algum novo Collor?), têm as maiores chances de chegar ao poder. Bem, no caso do PSDB, seria um retorno ao Palácio do Planalto.
Obviamente que posso estar errado, mas, na minha leitura, tudo se encaminha para a volta do PSDB ao poder. Digo isso com frieza igual à de um meteorologista que lê os modelos numéricos e conclui que vai chover, independentemente de ser esta ou não a sua vontade. Será assim, ou eu não estou conseguindo ver algo que vocês estão enxergando?

14 de junho de 2013

Bem além de 20 centavos

Nesta semana, tenho tido dificuldade de acompanhar o noticiário. Então, minhas informações sobre o que tem acontecido em São Paulo e também em Porto Alegre são muito fragmentadas. Há muitas versões, e pouco fato no que eu tenho lido - e, sinceramente, não é nos jornais que eu vou alcançar uma real compreensão dos fatos - pelo contrário... De qualquer maneira, entendo que é um grande erro minimizar essas manifestações, como o faz a grande imprensa. Esses movimentos estão desenvolvendo uma agenda que vai bem além dos "20 centavos". Há algo de novo no ar, e os políticos e a imprensa não estão conseguindo interpretar corretamente. Eu só deploro a violência. Já tenho experiência suficiente para não me iludir e pensar que as manifestações são inerentemente pacíficas e que toda a violência decorre da repressão. No meio de um grupo tão heterogêneo assim, é quase inevitável que haja alguns que admirem a violência, a destruição - e não é nada fácil controlá-los. O mundo não se divide entre mocinhos e bandidos. Todos têm suas sombras! Mas eu creio que a violência não é inevitável. Participei de manifestações pelo impeachment de Collor, e naquela ocasião se conseguiu afastar do poder um presidente corrupto sem derramamento de sangue e sem depredação. A gente envelhece e não consegue se livrar de algumas utopias: a minha é a da mobilização popular que consegue transformações sem violência. Eu não aceito a covarde violência do Estado, mas também não aceito a anônima violência dos manifestantes. Tirando a violência de lado, e honrando a memória de minha mãe, lutadora pelas causas sociais, saúdo o retorno da indignação coletiva que se organiza em movimento social!

24 de maio de 2013

A mais nova moda no Facebook

É com tristeza que vejo a nova moda do Facebook, que é falar mal dos programas sociais do governo.
Não há dúvida de que há casos de fraudes, há exemplos de pessoas que usam mal o recurso que recebem.
Mas é estranho quando a exceção vira mais importante que a regra.
Ou quando se acredita que a exceção é a regra.
Não pega bem mostrar uma mãe pobre que usa dinheiro do bolsa família para comprar comida.
É muito mais divertido - é cool! - exibir vídeo de uma mãe pobre dizendo que o dinheiro do bolsa família não lhe permite comprar uma calça jeans de 300 reais para a filha.
Pronto! É só ver um vídeo assim, e já se imagina ter o argumento fundamental contra as políticas sociais.
É só ver um vídeo assim para se ter todas as provas de que bolsa-família e coisas do gênero não funcionam.
É uma posição política legítima, mas, a meu ver, equivocada.
Quem pensa assim talvez não se dê conta, mas está em sintonia com a plataforma política dos republicanos dos Estados Unidos e dos conservadores no Reino Unido.
Não há nada de errado em ser politicamente conservador; não há nada de errado em ser de direita.
O único problema é quando a pessoa tem uma ideologia de direita, mas não admite ser de direita.
Este governo tem muitos defeitos. O pior deles é que faz muito pouco para superar o grande atraso do Brasil em relação à qualidade da educação.
Este governo faz alianças espúrias, sendo conivente com muitas formas de corrupção.
Mas, desde que começaram os programas sociais, ainda no governo FHC, o Brasil conseguiu uma significativa diminuição da desigualdade social.
Se duvidam do IBGE ou da FGV, então leiam relatórios do Banco Mundial, da OCDE.
Na última década, o Brasil foi o único dos BRICS que conseguiu crescimento econômico com diminuição de desigualdade social.
Na Rússia, na China, na Índia, os ricos estão cada vez mais ricos, e os pobres, cada vez mais pobres. O mesmo acontece nos Estados Unidos.
Aqui não. Depois de décadas de progressiva desigualdade social, o Brasil finalmente começa a pagar sua histórica dívida social.
Grande parte dessa conquista vem do aumento da renda das parcelas mais pobres da população, do aumento do potencial de compra de nosso mercado interno.
A ascensão social vem majoritariamente de renda obtida com o trabalho. Mas é inegável a importância de programas sociais, que muitas vezes fazem a diferença entre a miséria e a pobreza.
Fora do Brasil, a surpreendente diminuição da desigualdade social merece reconhecimento, com matérias de capa nos principais jornais e revistas.
Aqui, porém, nós, que pertencemos à elite do País, viramos as costas para este fato.
Sem nos darmos conta, fazemos com que apareça aqui no Facebook o histórico desprezo dos ricos em relação aos pobres. Não é um desprezo explícito, mas ele está aí, para quem observar com atenção não só aquilo que dizemos, mas especialmente aquilo sobre o qual nos calamos.
Nada mais típico num país que conviveu tanto tempo com a escravidão sem se incomodar com isso.
Quem sabe, um dia, talvez daqui alguns séculos, a moda seja ser solidário com os mais pobres e, ainda mais do que isso, sentir compaixão por eles, o que implica nunca transformá-los em piada.
Desculpem-me por estar tão fora de moda...

12 de maio de 2013

Remando contra a correnteza


Seu eu posso te dar um conselho
Que é sempre mais fácil dizer do que seguir
Evita ter muitas certezas
Pode ser que precisemos de algumas
Mas só umas poucas, que caibam nos bolsos.
Um mundo cheio de certezas é um pátio fechado
Uma vida plena de convicções é uma história acabada.
Cuida de tuas dúvidas como quem cuida de plantas frágeis
Deixa que as pequenas incertezas cresçam
E se transformem em grandes enigmas
Que consumam todo o tempo, toda a vida
Radiantes enigmas, livres das sombras das soluções definitivas.

8 de fevereiro de 2011

Vulcão Osorno, Chile

O vulcão Osorno está inativo há mais de 140 anos, mas, a qualquer momento, pode voltar a fumegar e despejar lava em direção ao Lago Llanquihue, como já fez por diversas vezes em sua história. Osorno é um vulcão com altitude de 2.652 metros, tem geleiras permanentes, apesar de situar-se no paralelo 41, em função do frio e úmido clima do sul do Chile. No final de janeiro, tivemos a sorte de subir o vulcão, uma parte de carro e outra de teleférico, chegando a uns 1.700 metros de altura. Abaixo, fotos, de diversos ângulos e distâncias, que mostram a beleza desse monumento da natureza.
Osorno visto desde Puerto Varas
Vulcão Osorno visto desde o Lago Todos los Santos (1)
Vulcão Osorno visto desde o Lago Todos los Santos (2)
Vulcão Osorno visto desde o Lago Todos los Santos (3)
Saltos de Petrohue, perto do Osorno (1)
Osorno visto desde Petrohue
Saltos de Petrohue, perto do Osorno (2)
Após uma curva, eis que aparece o vulcão Calbuco
Em cima do Osorno, a 1.200 metros de altitude
As geleiras do cume do Osorno
Subindo o Osorno, visualiza-se uma cratera secundária

Pessoas brincando nas geleiras do Osorno
Na volta do Osorno, uma raposa selvagem, em Ensenada

6 de fevereiro de 2011

Ilha de Chiloé, Chile

Muitos anos atrás, li uma reportagem sobre a Ilha da Chiloé na revista National Geographic. Naquela ocasião, fui procurar no mapa e vi que ela ficava perdida num cantinho do mundo. A ilha é até bem grande, a segunda maior do Chile, com quase 200 quilômetros de norte a sul. Mas é uma região isolada, onde chove em dois terços dos dias, faz frio mesmo no verão, e o sol é um raro e comemorado presente dos céus. Apesar do clima hostil, nunca me esqueci das fotos de suas igrejas de madeira, de suas praias com paisagens estranhas formações rochosas, de seus campos e lagos. No dia 31 de janeiro, umas duas décadas depois de ter lido aquela reportagem, passei um dia no norte da ilha, conhecendo a cidade de Ancud e também os "Islotes de Piñuhil", que abrigam pinguins. Abaixo, algumas das fotos que registram esse dia inesquecível numa região que parece tão distante no tempo e no espaço...

19 de novembro de 2010

Dica de leitura: Escrita, leitura e i(nc)lusão digital, de Dino del Pino

Duas capas, dois livros em um
Conheci a obra do escritor Dino del Pino há uns 25 anos, quando era estudante de Letras e trabalhava em Porto Alegre. Seis dias por semana eu rumava para meu trabalho na antiga Caldas Júnior e, dentro dos então modernos trens, lia de tudo: comédias de Plauto, tragédias de Ésquilo, obras de Cícero e Sêneca, livros de psicologia da educação ou sobre teoria literária... Foi uma época em que eu construí a estrutura de meus conhecimentos sobre linguística, literatura e educação. Entre essas obras, lá estavam livros de Dino del Pino sobre teoria da literatura. Depois conheci seus livros didáticos voltados para o Ensino Médio, anos luz à frente de tudo o que havia àquela época. Suas obras não menosprezam a inteligência do leitor, resultam de profundos mergulhos reflexivos, mesmo quando, didaticamente, tratam da literatura para o público adolescente.

Agora, um quarto de século depois, descubro que Dino del Pino lançou novo livro, com direito a sessão de autógrafos na Feira do Livro de Porto Alegre. Bem, um livro...ou dois? A obra, de fato, escapa às tentações classificatórias, parecendo se originar sob o signo de Gêmeos: tem duas capas e dois propósitos, que às vezes se intercalam, às vezes se mesclam. Em cada capítulo, del Pino dedica um espaço para compartilhar com os leitores seus conhecimentos profissionais sobre como tirar o máximo proveito de processadores de texto, como o Word, de forma a organizar leituras, pesquisas e produções escritas. Essa é a face da obra que cumpre papel de "autoajuda análogo-digital". Mas, lembrem, ler esses trechos que se aproximam do manual, neste caso, leva o leitor a uma jornada muito mais longa do que um manual tradicionalmente nos leva: a experiência é similar à de ler o relatório da prefeitura de Palmeira dos Índios escrito por Graciliano Ramos quando este era prefeito da pequena cidade alagoana. Um relatório ou manual redigidos por um escritor põem em cheque os paradigmas dos gêneros textuais.

Para além desse transcendente manual, encontra-se outro livro dentro do livro: uma rica reflexão sobre a (falsa?) dicotomia digital x analógico. Seguindo a tradição de Sócrates, o autor interage com personagens, construindo diálogos plenos de ironia e sutis provocações, que muitas vezes começam com conceitos teóricos para então interpretarem fatos e ideias contemporâneos. O século XXI, o ano de 2010 estão vivos dentro da obra, observados pelo olhar crítico do autor e de seus insólitos interlocutores.

Há, realmente, dois livros dentro de uma só obra. Dependendo dos interesses do leitor, pode-se romper com a linearidade da leitura buscando unir sequências que, juntas, acabam por se constituir num manual de ajuda para quem precisa organizar suas leituras e produções textuais digitais. De forma alternativa ou complementar, a não linearidade da leitura pode levar o desavisado leitor a descobrir outra obra, que, em vez de prescrever, semeia a dúvida, mina certezas, a exemplo do que se fazia nos primórdios do pensamento filosófico. Volta-se ao passado, na forma e no conteúdo, para, talvez, descobrir que o digital não é algo tão novo como se costuma pensar.

Escrita, leitura e i(nc)lusão digital é uma publicação da editora AGE.

3 de outubro de 2010

Como o Brasil está sendo vista lá de fora

Reproduzo aqui matéria do jornal inglês The Observer deste domingo analisando o final do segundo mandato do presidente Lula e as eleições de hoje.

Lula's Brazil: glitzy, rich, dynamic

Tom Phillips

The Observer, Sunday 3 October 2010

As President Lula prepares to leave office with an approval rating of 81%, he leaves a nation looking to the future with hope and a new confidence

Night was falling on Rio's Ipanema beach. Inside the Londra bar at the upmarket Fasano hotel, waiters were making the final adjustments before throwing open the frosted-glass door to the city's most exclusive nightspot.

The bar staff weaved between Sex Pistols-inspired Philippe Starck armchairs shipped in from France. Behind an immaculate bar, stocked with glowing bottles of 12-year-old Glenlivet whisky and buckets of Veuve Clicquot, the cocktail chief showed off his latest creation – a Martini bloody mary topped with scarlet foam.

"This is a 'sceney' place: a place to see and be seen," said Paula Bezerra de Mello, head of PR at what is generally thought to be Rio's most sophisticated hotel. It was, she said, part of the "new luxury" of the Lula era.

As a former trade unionist, Brazil's hugely popular president, Luiz Inácio Lula da Silva, is best known for helping his country's poor during an eight-year reign that is entering its final moments. According to the government, more than 20 million Brazilians have been hauled out of poverty since Lula came to power. But the rich have not done badly either.

Night after night Londra – "London" – is packed with foreign celebrities and the great and good of Rio's high society, who come together to savour some of the most expensive cocktails in town. They dance until gone 3am and enjoy the charms of a place that many see as a key symbol of the "new Brazil": a dynamic nation of talented designers, successful international jet-setters and, of course, beautiful people.

With the economy once again on the move and the Olympics and World Cup on the way, there is a certain something in the Rio air right now; a swagger that can be felt not only in Ipanema's luxurious nightspots, but also in the city's impoverished slums – favelas – and remote Amazonian towns where shopping malls and cinemas are sprouting from the ground with growing pace.

"There is a greater excitement, an optimism," said Rogério Fasano, Brazil's most revered hotelier and restaurateur, who studied film-making in London and conceived Londra as an Italian-tinged homage to his former home. "I feel that people are seeing Brazil in a different way – not just in terms of tourism, but in terms of business," he said.

Many, though not all, attribute this upbeat mood and palpable self-confidence to one man: Lula. According to a poll released on Wednesday, Lula will leave office after two terms with an approval rating of an astronomical 81%.

Today the curtains will begin to go down on the "era Lula". Unless the presidential race is forced into a second round, Brazilians will discover who will pick up where Lula left off.

If polls are to be believed, Lula's successor will be Dilma Rousseff, a former student rebel who rose to be Lula's chief of staff after spending three years in jail under the former military dictatorship. She has a reputation as a respected enforcer entrusted to lead the soon-to-be-ex-president's gigantic economic growth programme, pumping billions into social programmes and infrastructure works.

The new president officially takes over on 1 January, 2011. But between now and then historians will pore over one central question: how did Brazil's first working-class leader achieve such a startlingly vibrant legacy?

For his Workers' party activists and other Lula allies, the answer remains simple. "I am 68 years old and I can tell you that Lula was a president who changed the history of Brazil for the poor and humble," said Benedita da Silva, a Rio politician who was the first African-Brazilian woman elected to the country's Senate. She briefly served as Lula's social development minister before being caught up in a bribery scandal.

Few understand the transformations that Brazil has undergone under Lula better than one of the president's namesakes, a woman who was raised in Chapeu-Mangueira, a Copacabana favela around 10 minutes' drive from Londra, and who has witnessed up close the changes in Brazil's most deprived corners.

"[As a child] I didn't have water. I didn't have electricity. I didn't have a comfortable brick home. Today, these projects are arriving in the communities," she said on Thursday during a campaigning event in Nova Iguaçu, an impoverished town in the rundown suburbs of Rio de Janeiro.

"I know what it means to go hungry. I know what it means to live below the poverty line; to not have water, or electricity, or a school for your child; to not be able to get a job because you have no education or because you live in the favela and no one will give you a job because they are scared."

It was early afternoon and the veteran Workers' party politician – who claims to be a particular fan of President Lula's homemade soup – was busy hunting for votes in a bid to be elected to the Brazilian Congress.

"We haven't come here to speak badly about [other politicians]. We have come to show the work that Lula has done," she told the largely supportive crowds through a crackly PA system.

"People may not like it, but it is the truth. In the history of our country, Lula has been a great president."

Around her the Workers' party activists brandished red-and-white flags that were emblazoned with the slogan: "She's like Lula – she has the soul of the people."

Valdinei Medina, a 29-year-old community leader in the slum where Benedita da Silva was born, was nine when Lula appeared at Chapeu Mangueira shantytown high above Copacabana beach. "He stood right over there under the jackfruit tree," he beamed. "I have a photo of it in the association."

The year was 1989 and Lula, a former shoeshine boy and fiery union leader, had come to this hillside favela as he made his first bid to become Brazilian president.

"People thought: 'Wow! A presidential candidate has come to the slum!'" remembered Medina, a keen Lula supporter. "Back then the slum was complicated. It was something rare. It went down [in our] history."

Lula lost that year and was not elected president until 2002. But millions of impoverished Brazilians, among them many of Chapeu Mangueira's 3,000-odd residents, are certain it was worth the wait.

"It's like Obama said, 'He's the man'," said Medina, just before the start of Brazil's final presidential debate. "Economically things have changed a lot. Before people didn't have phones at home or mobile phones, cars and motorbikes. Today in any favela you go to, the poor man can get these things, can get loans and this is down to Lula, without doubt.

"When Lula took over it was as if the country was coming out of a war. And today things have stabilised. We are no longer known as the country of football and beautiful women. We are known as country that is economically strong."

Lula's support is not universal. Many believe Lula's success, and the country's growing prosperity, owes more to the commodities boom than to any personal merit and warn that a growing government deficit threatens to cause a major headache in coming years. Others attribute Brazil's recent boom to Lula's predecessor, Fernando Henrique Cardoso, who helped stabilise the country's erratic economy in the early 1990s and, perhaps understandably, feels somewhat aggrieved at the lack of recognition.

"I did the reforms. Lula surfed the wave," Cardoso told the Financial Times recently.

But no one can argue with those popularity figures. Back in Londra, Mello was celebrating her country's new financial and cultural renaissance – it is one of the BRIC nations, Brazil, Russia, India and China, which are in the forefront of new economic development – and pondering the outcome of the election: "Right now, Lula could elect this [sachet of] sugar if he wanted," she said, reaching out for the sugar bowl. "That is how much charisma and power he has.

"Everybody referred to Brazil as a sleeping giant, and I think what people are realising now is that we are awake," she explained in immaculate American English. "[Being labelled a] BRIC was a significant positioning … [for people] to realise that there were these four incredibly powerful potential markets. We've always had 'it', and of course the Olympics and the World Cup reiterated that fact," she said. "Now it is official."

guardian.co.uk © Guardian News and Media Limited 2010


13 de fevereiro de 2010

Ushuaia: um olhar sobre o fim do mundo (2)

Árvores moldadas pelo vento junto ao Canal de Beagle
Ushuaia tem uma beleza selvagem, pouco adaptada e adaptável ao homem. Faz frio o ano inteiro, mesmo no verão. Não raramente neva em janeiro ou fevereiro. O vento sopra frequentemente com grande intensidade, moldando a forma das árvores. Saindo da cidade, quase não se veem pessoas. São imensidões de paisagens fantásticas, onde a presença humana é a exceção. A seguir, dando sequência à postagem anterior, imagens dos arredores de Ushuaia.

Paisagem próxima ao Parque Nacional da Terra do Fogo, a oeste de Ushuaia. A montanha com gelo tem perto de 1200 metros de altura.


Vista do Lago Roca, dentro do Parque Nacional da Terra do Fogo. A fronteira com o Chile fica a menos de um quilômetro de onde foi tirada esta foto. O lago está a uns 12 metros acima do nível do mar, e a montanha com gelo, no lado chileno, tem mais de 900 metros.


No Canal de Beagle, a uns 15 quilômetros do porto de Ushuaia, há uma ilha como leões marinhos.


Navegando pelo Canal de Beagle, de repente visualiza-se uma pequena cidade: é Puerto Williams, na Ilha Navarino, que pertence ao Chile. Puerto Williams fica a cerca de 42 km a leste-sudeste de Ushuaia. Alguns dos picos ao sul da cidade chegam a 900 metros.


A cerca de 55 km a leste de Ushuaia, uma "pinguinera" - uma ilha repleta de pinguins, absolutamente despreocupados com os barcos, os turistas e suas máquinas fotográficas.


A partir do Canal de Beagle, foto de uma montanha com cerca de 900 metros de altura, 48 km a leste de Ushuaia.


Vista do Valle Mayor, uns 15 km a nordeste de Ushuaia. Na Terra do Fogo, a Cordilheira dos Andes é mais baixa e corre de oeste para leste. As montanhas ao norte do vale têm entre 900 e 1100 metros de altura.


Outra vista do Valle Mayor. No inverno, essa área de campo fica coberta de neve. É a época em cães huskies puxam trenós e se pratica esqui cross-country.


Às margens da Ruta 3, a caminho da cidade de Río Grande, tem-se essa vista do Lago Escondido e, mais ao fundo do Lago Fagnano.


Essa é uma vista que se tem do aeroporto de Ushuaia: o Canal de Beagle, montanhas com neve e nuvens. Porém, a foto não revela uma presença forte e impossível de ser ignorada: o gelado e forte vento de Ushuaia.

Em breve, farei nova postagem neste blog com fotos de El Calafate e da Geleira Perito Moreno. Até a próxima.