Verdades Provisórias
Este espaço é uma continuação do Blog a Dois. Aqui, você encontra reflexões sobre temas variados, dos mais prosaicos aos mais abstratos. No simples ou no complexo, um raciocínio básico: é preciso buscar a verdade, mas ter a humildade de reconhecer que ela está em constante transformação. Ter a verdade nas mãos é perdê-la.
29 de julho de 2017
O neoliberalismo nos convenceu a combater as mudanças climáticas como indivíduos
21 de janeiro de 2016
Wanted: High-Character Students
‘Getting Over Yourself’
Rescuing Humanity
‘Extreme Self-Consciousness’
28 de outubro de 2013
Pela ressurreição da dúvida
27 de outubro de 2013
Não há desculpas para a violência covarde.
19 de outubro de 2013
Eis o novo Brasil
É um novo País, fresquinho, ainda com cheiro de tinta, que surgiu de repente em junho.
Como se fosse uma ilha paquistanesa após um terremoto.
Nesse novo Brasil, a polícia, cheia de orgulho, bate em professores e cega fotógrafos com balas de borracha.
Também é o país onde a luta política passou a ser feita com pedra e fogo.
Adeus, discursos, argumentos, mesas de negociação.
Adeus, Thoreau, Gandhi, Luther King.
A pedra é mais pesada do que a palavra.
Vamos transformar o mundo depredando prédios e incendiando carros.
Vamos vencer a violência com violência.
Se a força é o que importa, os líderes passarão a ser aqueles que tenham a mão mais forte.
Capaz de atirar mais longe pedras mais pesadas.
A ditadura acabou, mas o pensamento totalitário ganha cada vez mais espaço.
No centro do poder nada mudou e nada deve mudar.
Mas, na periferia, trocou-se o sonho de um mundo de paz e justiça por um mundo com mais adrenalina.
3 de julho de 2013
Quando o herói vira o inimigo público nº 1
30 de junho de 2013
Políticas de inclusão social e o Facebook
Reflexos das manifestações sobre o resultado das eleições presidenciais de 2014
14 de junho de 2013
Bem além de 20 centavos
24 de maio de 2013
A mais nova moda no Facebook
Não há dúvida de que há casos de fraudes, há exemplos de pessoas que usam mal o recurso que recebem.
Mas é estranho quando a exceção vira mais importante que a regra.
Ou quando se acredita que a exceção é a regra.
Não pega bem mostrar uma mãe pobre que usa dinheiro do bolsa família para comprar comida.
É muito mais divertido - é cool! - exibir vídeo de uma mãe pobre dizendo que o dinheiro do bolsa família não lhe permite comprar uma calça jeans de 300 reais para a filha.
Pronto! É só ver um vídeo assim, e já se imagina ter o argumento fundamental contra as políticas sociais.
É só ver um vídeo assim para se ter todas as provas de que bolsa-família e coisas do gênero não funcionam.
É uma posição política legítima, mas, a meu ver, equivocada.
Quem pensa assim talvez não se dê conta, mas está em sintonia com a plataforma política dos republicanos dos Estados Unidos e dos conservadores no Reino Unido.
Não há nada de errado em ser politicamente conservador; não há nada de errado em ser de direita.
O único problema é quando a pessoa tem uma ideologia de direita, mas não admite ser de direita.
Este governo tem muitos defeitos. O pior deles é que faz muito pouco para superar o grande atraso do Brasil em relação à qualidade da educação.
Este governo faz alianças espúrias, sendo conivente com muitas formas de corrupção.
Mas, desde que começaram os programas sociais, ainda no governo FHC, o Brasil conseguiu uma significativa diminuição da desigualdade social.
Se duvidam do IBGE ou da FGV, então leiam relatórios do Banco Mundial, da OCDE.
Na última década, o Brasil foi o único dos BRICS que conseguiu crescimento econômico com diminuição de desigualdade social.
Na Rússia, na China, na Índia, os ricos estão cada vez mais ricos, e os pobres, cada vez mais pobres. O mesmo acontece nos Estados Unidos.
Aqui não. Depois de décadas de progressiva desigualdade social, o Brasil finalmente começa a pagar sua histórica dívida social.
Grande parte dessa conquista vem do aumento da renda das parcelas mais pobres da população, do aumento do potencial de compra de nosso mercado interno.
A ascensão social vem majoritariamente de renda obtida com o trabalho. Mas é inegável a importância de programas sociais, que muitas vezes fazem a diferença entre a miséria e a pobreza.
Fora do Brasil, a surpreendente diminuição da desigualdade social merece reconhecimento, com matérias de capa nos principais jornais e revistas.
Aqui, porém, nós, que pertencemos à elite do País, viramos as costas para este fato.
Sem nos darmos conta, fazemos com que apareça aqui no Facebook o histórico desprezo dos ricos em relação aos pobres. Não é um desprezo explícito, mas ele está aí, para quem observar com atenção não só aquilo que dizemos, mas especialmente aquilo sobre o qual nos calamos.
Nada mais típico num país que conviveu tanto tempo com a escravidão sem se incomodar com isso.
Quem sabe, um dia, talvez daqui alguns séculos, a moda seja ser solidário com os mais pobres e, ainda mais do que isso, sentir compaixão por eles, o que implica nunca transformá-los em piada.
Desculpem-me por estar tão fora de moda...
12 de maio de 2013
Remando contra a correnteza
8 de fevereiro de 2011
Vulcão Osorno, Chile
6 de fevereiro de 2011
Ilha de Chiloé, Chile
19 de novembro de 2010
Dica de leitura: Escrita, leitura e i(nc)lusão digital, de Dino del Pino
Há, realmente, dois livros dentro de uma só obra. Dependendo dos interesses do leitor, pode-se romper com a linearidade da leitura buscando unir sequências que, juntas, acabam por se constituir num manual de ajuda para quem precisa organizar suas leituras e produções textuais digitais. De forma alternativa ou complementar, a não linearidade da leitura pode levar o desavisado leitor a descobrir outra obra, que, em vez de prescrever, semeia a dúvida, mina certezas, a exemplo do que se fazia nos primórdios do pensamento filosófico. Volta-se ao passado, na forma e no conteúdo, para, talvez, descobrir que o digital não é algo tão novo como se costuma pensar.
Escrita, leitura e i(nc)lusão digital é uma publicação da editora AGE.
3 de outubro de 2010
Como o Brasil está sendo vista lá de fora
Lula's Brazil: glitzy, rich, dynamic
Tom Phillips
The Observer, Sunday 3 October 2010
As President Lula prepares to leave office with an approval rating of 81%, he leaves a nation looking to the future with hope and a new confidence
Night was falling on Rio's Ipanema beach. Inside the Londra bar at the upmarket Fasano hotel, waiters were making the final adjustments before throwing open the frosted-glass door to the city's most exclusive nightspot.
The bar staff weaved between Sex Pistols-inspired Philippe Starck armchairs shipped in from France. Behind an immaculate bar, stocked with glowing bottles of 12-year-old Glenlivet whisky and buckets of Veuve Clicquot, the cocktail chief showed off his latest creation – a Martini bloody mary topped with scarlet foam.
"This is a 'sceney' place: a place to see and be seen," said Paula Bezerra de Mello, head of PR at what is generally thought to be Rio's most sophisticated hotel. It was, she said, part of the "new luxury" of the Lula era.
As a former trade unionist, Brazil's hugely popular president, Luiz Inácio Lula da Silva, is best known for helping his country's poor during an eight-year reign that is entering its final moments. According to the government, more than 20 million Brazilians have been hauled out of poverty since Lula came to power. But the rich have not done badly either.
Night after night Londra – "London" – is packed with foreign celebrities and the great and good of Rio's high society, who come together to savour some of the most expensive cocktails in town. They dance until gone 3am and enjoy the charms of a place that many see as a key symbol of the "new Brazil": a dynamic nation of talented designers, successful international jet-setters and, of course, beautiful people.
With the economy once again on the move and the Olympics and World Cup on the way, there is a certain something in the Rio air right now; a swagger that can be felt not only in Ipanema's luxurious nightspots, but also in the city's impoverished slums – favelas – and remote Amazonian towns where shopping malls and cinemas are sprouting from the ground with growing pace.
"There is a greater excitement, an optimism," said Rogério Fasano, Brazil's most revered hotelier and restaurateur, who studied film-making in London and conceived Londra as an Italian-tinged homage to his former home. "I feel that people are seeing Brazil in a different way – not just in terms of tourism, but in terms of business," he said.
Many, though not all, attribute this upbeat mood and palpable self-confidence to one man: Lula. According to a poll released on Wednesday, Lula will leave office after two terms with an approval rating of an astronomical 81%.
Today the curtains will begin to go down on the "era Lula". Unless the presidential race is forced into a second round, Brazilians will discover who will pick up where Lula left off.
If polls are to be believed, Lula's successor will be Dilma Rousseff, a former student rebel who rose to be Lula's chief of staff after spending three years in jail under the former military dictatorship. She has a reputation as a respected enforcer entrusted to lead the soon-to-be-ex-president's gigantic economic growth programme, pumping billions into social programmes and infrastructure works.
The new president officially takes over on 1 January, 2011. But between now and then historians will pore over one central question: how did Brazil's first working-class leader achieve such a startlingly vibrant legacy?
For his Workers' party activists and other Lula allies, the answer remains simple. "I am 68 years old and I can tell you that Lula was a president who changed the history of Brazil for the poor and humble," said Benedita da Silva, a Rio politician who was the first African-Brazilian woman elected to the country's Senate. She briefly served as Lula's social development minister before being caught up in a bribery scandal.
Few understand the transformations that Brazil has undergone under Lula better than one of the president's namesakes, a woman who was raised in Chapeu-Mangueira, a Copacabana favela around 10 minutes' drive from Londra, and who has witnessed up close the changes in Brazil's most deprived corners.
"[As a child] I didn't have water. I didn't have electricity. I didn't have a comfortable brick home. Today, these projects are arriving in the communities," she said on Thursday during a campaigning event in Nova Iguaçu, an impoverished town in the rundown suburbs of Rio de Janeiro.
"I know what it means to go hungry. I know what it means to live below the poverty line; to not have water, or electricity, or a school for your child; to not be able to get a job because you have no education or because you live in the favela and no one will give you a job because they are scared."
It was early afternoon and the veteran Workers' party politician – who claims to be a particular fan of President Lula's homemade soup – was busy hunting for votes in a bid to be elected to the Brazilian Congress.
"We haven't come here to speak badly about [other politicians]. We have come to show the work that Lula has done," she told the largely supportive crowds through a crackly PA system.
"People may not like it, but it is the truth. In the history of our country, Lula has been a great president."
Around her the Workers' party activists brandished red-and-white flags that were emblazoned with the slogan: "She's like Lula – she has the soul of the people."
Valdinei Medina, a 29-year-old community leader in the slum where Benedita da Silva was born, was nine when Lula appeared at Chapeu Mangueira shantytown high above Copacabana beach. "He stood right over there under the jackfruit tree," he beamed. "I have a photo of it in the association."
The year was 1989 and Lula, a former shoeshine boy and fiery union leader, had come to this hillside favela as he made his first bid to become Brazilian president.
"People thought: 'Wow! A presidential candidate has come to the slum!'" remembered Medina, a keen Lula supporter. "Back then the slum was complicated. It was something rare. It went down [in our] history."
Lula lost that year and was not elected president until 2002. But millions of impoverished Brazilians, among them many of Chapeu Mangueira's 3,000-odd residents, are certain it was worth the wait.
"It's like Obama said, 'He's the man'," said Medina, just before the start of Brazil's final presidential debate. "Economically things have changed a lot. Before people didn't have phones at home or mobile phones, cars and motorbikes. Today in any favela you go to, the poor man can get these things, can get loans and this is down to Lula, without doubt.
"When Lula took over it was as if the country was coming out of a war. And today things have stabilised. We are no longer known as the country of football and beautiful women. We are known as country that is economically strong."
Lula's support is not universal. Many believe Lula's success, and the country's growing prosperity, owes more to the commodities boom than to any personal merit and warn that a growing government deficit threatens to cause a major headache in coming years. Others attribute Brazil's recent boom to Lula's predecessor, Fernando Henrique Cardoso, who helped stabilise the country's erratic economy in the early 1990s and, perhaps understandably, feels somewhat aggrieved at the lack of recognition.
"I did the reforms. Lula surfed the wave," Cardoso told the Financial Times recently.
But no one can argue with those popularity figures. Back in Londra, Mello was celebrating her country's new financial and cultural renaissance – it is one of the BRIC nations, Brazil, Russia, India and China, which are in the forefront of new economic development – and pondering the outcome of the election: "Right now, Lula could elect this [sachet of] sugar if he wanted," she said, reaching out for the sugar bowl. "That is how much charisma and power he has.
"Everybody referred to Brazil as a sleeping giant, and I think what people are realising now is that we are awake," she explained in immaculate American English. "[Being labelled a] BRIC was a significant positioning … [for people] to realise that there were these four incredibly powerful potential markets. We've always had 'it', and of course the Olympics and the World Cup reiterated that fact," she said. "Now it is official."
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