24 de maio de 2013

A mais nova moda no Facebook

É com tristeza que vejo a nova moda do Facebook, que é falar mal dos programas sociais do governo.
Não há dúvida de que há casos de fraudes, há exemplos de pessoas que usam mal o recurso que recebem.
Mas é estranho quando a exceção vira mais importante que a regra.
Ou quando se acredita que a exceção é a regra.
Não pega bem mostrar uma mãe pobre que usa dinheiro do bolsa família para comprar comida.
É muito mais divertido - é cool! - exibir vídeo de uma mãe pobre dizendo que o dinheiro do bolsa família não lhe permite comprar uma calça jeans de 300 reais para a filha.
Pronto! É só ver um vídeo assim, e já se imagina ter o argumento fundamental contra as políticas sociais.
É só ver um vídeo assim para se ter todas as provas de que bolsa-família e coisas do gênero não funcionam.
É uma posição política legítima, mas, a meu ver, equivocada.
Quem pensa assim talvez não se dê conta, mas está em sintonia com a plataforma política dos republicanos dos Estados Unidos e dos conservadores no Reino Unido.
Não há nada de errado em ser politicamente conservador; não há nada de errado em ser de direita.
O único problema é quando a pessoa tem uma ideologia de direita, mas não admite ser de direita.
Este governo tem muitos defeitos. O pior deles é que faz muito pouco para superar o grande atraso do Brasil em relação à qualidade da educação.
Este governo faz alianças espúrias, sendo conivente com muitas formas de corrupção.
Mas, desde que começaram os programas sociais, ainda no governo FHC, o Brasil conseguiu uma significativa diminuição da desigualdade social.
Se duvidam do IBGE ou da FGV, então leiam relatórios do Banco Mundial, da OCDE.
Na última década, o Brasil foi o único dos BRICS que conseguiu crescimento econômico com diminuição de desigualdade social.
Na Rússia, na China, na Índia, os ricos estão cada vez mais ricos, e os pobres, cada vez mais pobres. O mesmo acontece nos Estados Unidos.
Aqui não. Depois de décadas de progressiva desigualdade social, o Brasil finalmente começa a pagar sua histórica dívida social.
Grande parte dessa conquista vem do aumento da renda das parcelas mais pobres da população, do aumento do potencial de compra de nosso mercado interno.
A ascensão social vem majoritariamente de renda obtida com o trabalho. Mas é inegável a importância de programas sociais, que muitas vezes fazem a diferença entre a miséria e a pobreza.
Fora do Brasil, a surpreendente diminuição da desigualdade social merece reconhecimento, com matérias de capa nos principais jornais e revistas.
Aqui, porém, nós, que pertencemos à elite do País, viramos as costas para este fato.
Sem nos darmos conta, fazemos com que apareça aqui no Facebook o histórico desprezo dos ricos em relação aos pobres. Não é um desprezo explícito, mas ele está aí, para quem observar com atenção não só aquilo que dizemos, mas especialmente aquilo sobre o qual nos calamos.
Nada mais típico num país que conviveu tanto tempo com a escravidão sem se incomodar com isso.
Quem sabe, um dia, talvez daqui alguns séculos, a moda seja ser solidário com os mais pobres e, ainda mais do que isso, sentir compaixão por eles, o que implica nunca transformá-los em piada.
Desculpem-me por estar tão fora de moda...

12 de maio de 2013

Remando contra a correnteza


Seu eu posso te dar um conselho
Que é sempre mais fácil dizer do que seguir
Evita ter muitas certezas
Pode ser que precisemos de algumas
Mas só umas poucas, que caibam nos bolsos.
Um mundo cheio de certezas é um pátio fechado
Uma vida plena de convicções é uma história acabada.
Cuida de tuas dúvidas como quem cuida de plantas frágeis
Deixa que as pequenas incertezas cresçam
E se transformem em grandes enigmas
Que consumam todo o tempo, toda a vida
Radiantes enigmas, livres das sombras das soluções definitivas.