Aprendi a falar razoavelmente bem o espanhol de tanto escutar, à noite, rádios argentinas e uruguaias escondidas no dial. Além de jogar futebol e botão ou devorar livros, parte de minha infância e adolescência era dedicada à experiência de descobrir rádios bem distantes, seja nas ondas médias, seja nas ondas curtas. Não foi por acaso que, enquanto cursava a faculdade, decidi trabalhar numa rádio.
Quando as rádios começaram a transmitir pela internet, no final dos anos 90 e início deste século XXI, senti que a realidade superava o sonho. Como era possível escutar com som local rádios de lugares tão distantes como Luanda, Anchorage ou Adelaide? Logo me tornei um caçador de rádios na Internet, que escuto hoje muito menos do que gostaria em função de uma frenética e exaustiva rotina profissional.
Alguém poderia pensar: por que escutar rádios de outros países? Ora, há quem esteja longe de sua terra e sente vontade de acompanhar as emissoras de sua cidade. Não é o meu caso, que moro hoje na mesma cidade em que nasci. Minhas razões são outras: rádios de outros países são ótimas oportunidades para se aprender sobre lugares distantes e se familiarizar com outras línguas. Quem gosta de estudar outros idiomas e de conhecer outras culturas sabe do que estou falando.
Mas, apesar do incrível avanço tecnológico registrado em tão poucos anos, havia ainda uma fronteira a ser desbravada no universo das rádios via web: a mobilidade. Havia. A tecnologia 3G permitiu que esse novo limiar fosse rapidamente alcançado. As rádios do mundo inteiro podem estar agora na palma de nossa mão, em qualquer lugar, andando com a gente.


Há momentos em que todos nós precisamos de silêncio. Na verdade, necessitamos de mais silêncio do que nos concedemos em nossas vidas. Mas também é bom poder estar ligado ao mundo, é prazeroso descobrir como pensam pessoas de lugares distantes: quais são seus problemas, quais são suas soluções para esses problemas, o que nos aproxima deles, o que deles nos distancia, como expressam seus receios e desejos.
Os aparelhos celulares que permitem conexão com a internet em alta velocidade e os pacotes de dados ainda estão relativamente caros, mas é só pensar um pouco para perceber que em breve toda essa tecnologia vai estar bastante acessível a quase toda a população. Lembrem quem tinha celular em 1994 e vejam quem tem hoje: o barateamento e a conseqüente universalização desse tipo de tecnologia dependem apenas do tempo. Então a grande questão que ficará para cada um de nós é decidir com que finalidade vai usar (se é que vai querer usar) tanta tecnologia, tanta potencialidade. Eu vejo encanto em tudo isso e penso não estar sozinho.
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