30 de junho de 2013

Políticas de inclusão social e o Facebook

Os grandes beneficiários das políticas de inclusão social no Brasil não têm Facebook. Sua voz raramente é ouvida nas redes sociais, pois são pessoas que dificilmente têm acesso à internet, muito menos tablets e smartphones. Até porque eles em geral estão fora das chamadas "redes sociais" virtuais, pelas quais as manifestações são convocadas, não os vejo também como protagonistas de todo esse surpreendente movimento cívico que agita pequenas e grandes cidades. As pautas das manifestações são, em geral, justas: combate à corrupção, menos privilégios para os políticos, mais investimentos em educação e em saúde, etc. O atendimento a essa pauta de reivindicações, se acontecer, deve trazer benefício para o conjunto da população brasileira. 
Porém, curiosamente, todo esse movimento se segue a uma onda de condenações, especialmente no Facebook, à política de inclusão social que tem sido adotada no Brasil nos últimos 15 anos. Essa política começou de forma tímida no Governo FHC e ganhou força nos governos Lula e Dilma. O PT errou muito nos últimos anos. Fez alianças espúrias a fim de ter maioria no Congresso, assistiu passivo ao episódio do mensalão e negligenciou a educação. Apesar de tudo isso, as políticas de inclusão social têm feito o País reverter uma tendência de séculos: diminuir a histórica e cristalizada desigualdade social. São avassaladoras as evidências de que milhões de brasileiros deixaram nos últimos anos de serem miseráveis para serem apenas pobres. Isso é pouco para quem está na classe média, mas pode ser a diferença entre a vida e a morte para muitos brasileiros. O Brasil é o único país dos BRICs em que a desigualdade social está diminuindo. Na China, na Rússia, na Índia, há até mais crescimento econômico, mas os ricos ficam cada vez mais ricos; os pobres ficam cada vez mais pobres. É óbvio que ainda há muito a fazer, mas deveríamos comemorar essa conquista, materializada na redução da mortalidade infantil e no aumento da longevidade, especialmente no Nordeste. É óbvio que o ideal é que as pessoas não dependam tanto de programas de complementação de renda, que consigam se sustentar por conta própria, mas tentar garantir esse ideal agora à força, abandonando as políticas de inclusão social, seria fazer com que milhões de brasileiros voltassem à miséria. 
O que mais me preocupa é ver que a diminuição da desigualdade social, que deveria ser o grande tema nacional, não apenas está ausente das manifestações, como parece estar fora do desejo da maioria das pessoas que se expressam pelas redes sociais. Mais do que isso, tudo indica que uma grande parcela dos manifestantes vai escolher políticos que interrompam ou diminuam esse tipo de investimento social. E podem me apedrejar se quiserem, mas, na minha leitura, a desigualdade social está fora da pauta, pois ela não atende diretamente aos interesses da nossa grande classe média. As políticas de inclusão social são uma pauta altruísta demais num país acostumado com as desigualdades. 
Resta-me, por fim, fazer um apelo aos meus amigos de Facebook: já que provavelmente haverá uma grande renovação política no próximo ano, só lhes peço que, independentemente de partido político, escolham governantes e legisladores que não acabem e, ao contrário, ampliem as ações governamentais voltadas para a diminuição da desigualdade social. Não permitam que o grande legado de todas essas fantásticas manifestações seja fazer o Brasil voltar a ser o que sempre foi: um país em que os ricos ficam cada vez mais ricos, e os pobres cada vez mais pobres. Façam os governantes ouvirem suas vozes, mas façam também com que suas vozes não sejam apenas suas e solidariamente representem também aqueles que nem sabem o que é Facebook!

Reflexos das manifestações sobre o resultado das eleições presidenciais de 2014

Acostumado a fazer previsões meteorológicas, ensaio aqui uma sucinta, despretensiosa e desapaixonada previsão política, tentando responder à pergunta sobre quem tem mais chance de vencer as eleições de 2014 a partir das manifestações que varrem o Brasil. 
As chances de Dilma ou de Lula diminuem a cada dia: nas redes sociais, o PT, Dilma e Lula são vistos como a causa de todos os males do País. Marina está bem cotada agora, mas o fato de ser evangélica deve lhe trazer sérios problemas na hora da campanha eleitoral. O PSDB e Aécio estão sendo poupados das críticas e, ao que tudo indica, se não surgir um novo candidato de um partido desconhecido (algum novo Collor?), têm as maiores chances de chegar ao poder. Bem, no caso do PSDB, seria um retorno ao Palácio do Planalto.
Obviamente que posso estar errado, mas, na minha leitura, tudo se encaminha para a volta do PSDB ao poder. Digo isso com frieza igual à de um meteorologista que lê os modelos numéricos e conclui que vai chover, independentemente de ser esta ou não a sua vontade. Será assim, ou eu não estou conseguindo ver algo que vocês estão enxergando?

14 de junho de 2013

Bem além de 20 centavos

Nesta semana, tenho tido dificuldade de acompanhar o noticiário. Então, minhas informações sobre o que tem acontecido em São Paulo e também em Porto Alegre são muito fragmentadas. Há muitas versões, e pouco fato no que eu tenho lido - e, sinceramente, não é nos jornais que eu vou alcançar uma real compreensão dos fatos - pelo contrário... De qualquer maneira, entendo que é um grande erro minimizar essas manifestações, como o faz a grande imprensa. Esses movimentos estão desenvolvendo uma agenda que vai bem além dos "20 centavos". Há algo de novo no ar, e os políticos e a imprensa não estão conseguindo interpretar corretamente. Eu só deploro a violência. Já tenho experiência suficiente para não me iludir e pensar que as manifestações são inerentemente pacíficas e que toda a violência decorre da repressão. No meio de um grupo tão heterogêneo assim, é quase inevitável que haja alguns que admirem a violência, a destruição - e não é nada fácil controlá-los. O mundo não se divide entre mocinhos e bandidos. Todos têm suas sombras! Mas eu creio que a violência não é inevitável. Participei de manifestações pelo impeachment de Collor, e naquela ocasião se conseguiu afastar do poder um presidente corrupto sem derramamento de sangue e sem depredação. A gente envelhece e não consegue se livrar de algumas utopias: a minha é a da mobilização popular que consegue transformações sem violência. Eu não aceito a covarde violência do Estado, mas também não aceito a anônima violência dos manifestantes. Tirando a violência de lado, e honrando a memória de minha mãe, lutadora pelas causas sociais, saúdo o retorno da indignação coletiva que se organiza em movimento social!